Vinha de Luz
seja bem-vindo à nossa loja virtual!

REGISTRE-SE | LOGIN ( esqueci minha senha )

Notícia

Estudando com Léon Denis




Tudo nos murmura


   “Lá em cima, outros problemas me atraem. Para onde vão esses mundos inumeráveis? Em virtude de que forças se movem, se procuram, no seio do insondável abismo? Sempre, no fundo de tudo, surge o pensamento de Deus, energia eterna, eterno amor! A mão que dirige os astros na extensão escreveu ali um nome em letras de fogo! Todos esses mundos conhecem seu trilho, sua missão sagrada; prosseguem infalivelmente. Sabem que representam um papel no plano divino e a este se associam estreitamente. Todo o segredo da Natureza está nisso. Os mares, as florestas e as montanhas não dizem outra coisa. A Via Láctea, que desenrola através do espaço sua poeira de mundos, os cedros gigantescos, que estendem seus longos ramos acima dos precipícios, a flor, que se expande aos beijos do sol, tudo nos murmura: é a Ele que devemos o ser, é por Ele que vivemos e morremos!”

__________________

Léon Denis -
O Grande Enigma


“Que espetáculos, que maravilhas representam para nossa vida esses mundos longínquos, que variedade de sensações que se podem recolher desses universos! E essas almas prosseguem sua viagem na imensidade, até que, submetidas à lei eterna, retomam órgãos novos, se fixam sobre um desses mundos para cooperar, pelo trabalho, para o seu adiantamento, para o seu progresso. Ante esses horizontes imensos, como nossa Terra fica pequena! E diante de tais perspectivas pode-se temer a morte?”

____________________

Léon Denis - O gênio céltico e o mundo invisível


Na hora em que tudo repousa nas nossas cidades, quando a noite está transparente e o silêncio se faz sobre a terra adormecida, então, ó homens, meus irmãos, elevem seus olhos e contemplem o infinito dos céus!

Observem a marcha ritmada dos astros, evoluindo nas profundezas. Esses fogos inumeráveis são mundos perto dos quais a Terra não é mais que um átomo, sóis prodigiosos contornados por cortejos de esferas e dos quais as distâncias espantosas que nos separam se medem por milhões de anos-luz. Por isso nos parecem simples pontos luminosos. Mas dirijam para eles esse olho colossal da ciência, o radiotelescópio, e vocês distinguirão suas superfícies semelhantes a oceanos em chamas.

Procurem em vão contá-los; eles se multiplicam até nas regiões mais remotas e confundem-se na distância como uma poeira luminosa. Observem também como sobre os mundos vizinhos da Terra se desenham os vales e as montanhas, mares são cavados, nuvens se movem. Reconheçam que as manifestações da vida se produzem por toda parte e que uma ordem admirável une, sob leis uniformes e por destinos comuns, a Terra e seus irmãos, os planetas errantes no Infinito. Verifiquem que todos esses mundos, habitados por outras sociedades humanas, se agitam, se afastam e aproximam dotados de velocidades diversas, percorrendo orbes imensos. Por todo lado o movimento, a atividade e a vida se mostram em um espetáculo grandioso.

Observem nosso próprio globo, a Terra, que parece nos dizer: ”Vossa carne é a minha, vossos entes minhas crianças”. Observem-na, esta grande ama de leite da humanidade; vejam a harmonia de seus contornos, seus continentes, no seio dos quais as nações germinam e crescem, seus vastos oceanos sempre em movimento; acompanhem a renovação das estações revestindo-a, cada vez, de verdes adornos ou de louras colheitas; contemplem os seres vivos que a povoam: pássaros, insetos, plantas e flores; cada um deles é um cinzelado maravilhoso, uma jóia do estojo divino. Observem a si mesmos; vejam o desempenho admirável de seus órgãos, o mecanismo maravilhoso e complicado de seus sentidos. Que gênio humano poderia imitar essas delicadas obras primas?

Considerem todas essas coisas e perguntem à sua razão se tanta beleza, esplendor e harmonia, podem resultar do acaso, ou se não existe, sobretudo, uma causa inteligente presidindo a ordem do mundo e a evolução da vida. E se vocês me opusessem os flagelos, as catástrofes, tudo o que vem perturbar essa ordem admirável, lhes responderia: sondem os problemas da natureza, não se fixem na superfície, desçam ao fundo das coisas e descobrirão, com surpresa, que as aparentes contradições mais não fazem que confirmar a harmonia geral, que são úteis ao progresso dos seres, único propósito da existência.

______________________

Léon Denis - O porquê da vida


Mundos superiores


Poderíeis falar do estado das almas encarnadas em mundos superiores ao nosso?

“Tomo, como comparação com o vosso, um mundo sensivelmente mais adiantado, onde a crença em Deus, na imortalidade da alma, na sucessão das existências, para chegar à perfeição são outras tantas verdades reconhecidas e compreendidas por todos, onde a comunicação dos seres corpóreos com o mundo oculto é, por isso mesmo, muito fácil. Os seres ali são menos materiais que em vossa Terra e não sujeitos a todas as necessidades que vos pesam; formam a transição entre os corpóreos e os incorpóreos.

Lá não há barreiras separando povos, nem guerras; todos vivem em paz, praticando entre si a caridade e a verdadeira fraternidade; as leis humanas ali são inúteis; cada um leva consigo a consciência, que é o seu tribunal. Ali o mal é raro e ainda esse mal seria quase o bem para vós. Em relação a vós eles seriam perfeitos, mas ainda estão longe da perfeição de Deus; ainda lhe são necessárias várias encarnações em diversas terras para completarem a purificação.

Aquele que na Terra vos parece perfeito seria considerado um revoltado e um criminoso no mundo de que vos falo. Vossos maiores sábios ali seriam os últimos ignorantes.

Nos mundos superiores as produções da natureza nada têm de comum com as do vosso globo. Tudo ali é apropriado à organização menos material dos habitantes. Não é pelo suor do rosto e pelo trabalho material que tiram o alimento.

O solo produz naturalmente o que lhes é necessário. Contudo, não estão inativos. Suas ocupações são bem outras que as vossas. Não tendo que prover as necessidades do corpo, provêem as do espírito; compreendendo cada um por que foi criado, está positivamente seguro de seu futuro e trabalha sem desânimo o seu próprio melhoramento e a purificação de sua alma.

A morte ali é considerada um benefício. O dia em que a alma deixa o seu invólucro é um dia feliz. Sabe-se aonde se vai. Passa-se primeiro para ir mais longe esperar os pais, os amigos e os espíritos simpáticos, deixados para trás.

Terra de paz, morada feliz, onde as vicissitudes da vida material são desconhecidas; onde a tranqüilidade da alma nem é perturbada pela ambição, nem pela sede de riquezas; felizes os que a habitam! Eles tocam o fim que perseguem há tantos séculos; vêem, sabem, compreendem; alegram-se em pensar no futuro que os espera e trabalham com mais ardor para chegar mais prontamente” ( Um espírito protetor - Revista Espírita de 1864).     
 

________________________

Léon Denis - O problema do ser, do destino e da dor


As missões, a vida superior

Todo espírito que deseja progredir, trabalhando na obra de solidariedade universal, recebe dos espíritos mais elevados uma missão particular apropriada às suas aptidões e ao seu grau de adiantamento.

Uns têm por tarefa receber os homens em seu regresso à vida espiritual, guiá-los, ajudá-los a se desembaraçarem dos fluidos espessos que os envolvem; outros são encarregados de consolar, instruir as almas sofredoras e atrasadas. Espíritos químicos, físicos, naturalistas, astrônomos, prosseguem suas investigações, estudam os mundos, suas superfícies, suas profundezas ocultas, atuam em todos os lugares sobre a matéria sutil, que fazem passar por preparações, por modificações destinadas a obras que a imaginação humana teria dificuldades em conceber; outros se aplicam às artes, ao estudo do belo sob todas as suas formas; espíritos menos adiantados assistem aos primeiros nas suas tarefas variadas e servem-lhes de auxiliares.

Grande número de espíritos consagra-se aos habitantes da Terra e dos outros planetas, estimulando-os em seus trabalhos, fortalecendo os ânimos abatidos, guiando os hesitantes pelo caminho do dever. Aqueles que exerceram a Medicina e possuem o segredo dos fluidos curativos, reparadores, ocupam-se mais especialmente dos doentes. (…)

Mais bela dentre todas é a missão dos espíritos de luz. Descem dos espaços celestes para trazer às humanidades os tesouros da sua ciência, da sua sabedoria, do seu amor. A sua tarefa é um sacrifício constante, porque o contato dos mundos materiais é penoso para eles; mas afrontam todos os sofrimentos por dedicação aos seus protegidos para os assistirem nas suas provações e infiltrarem em seus corações as grandes e generosas intuições. É justo atribuir-lhes os lampejos de inspiração que iluminam o pensamento, as expansões da alma, a força moral que nos sustenta nas dificuldades da vida. Se soubéssemos a quantos constrangimentos se impõem esses nobres espíritos para chegarem até nós, corresponderíamos melhor às suas solicitações, empregaríamos esforços enérgicos para nos desapegarmos de tudo o que é vil e impuro, unindo-nos a eles na comunhão divina.

Nas horas de atribulações, é para esses espíritos, para meus guias bem-amados que voam meus pensamentos e meus apelos; é deles que sempre me têm vindo o amparo moral e as consolações supremas.

Subi a custo os atalhos da vida; dura foi a minha infância. Cedo conheci o trabalho manual e os pesados encargos de família. Mais tarde, em minha carreira de propagandista, muitas vezes me feri nas pedras do caminho; fui mordido pelas serpentes do ódio e da inveja. E agora chegou para mim a hora crepuscular; vão subindo e rodeando-me as sombras; sinto que minhas forças declinam e os órgãos se enfraquecem. Nunca, porém, me faltou o auxílio de meus amigos invisíveis; nunca minha voz os evocou em vão.

Desde meus primeiros passos neste mundo, a sua influência envolveu-me. É às suas inspirações que devo minhas melhores páginas e minhas expressões mais vibrantes. Compartilharam minhas alegrias e tristezas e, quando rugia a tempestade, eu sabia que eles estavam firmes ao meu lado, no meu caminho. Sem eles, sem seu socorro, há muito tempo que eu teria sido obrigado a interromper a minha marcha, a suspender o meu labor; mas suas mãos estendidas têm-me amparado e dirigido na áspera via.


Às vezes, no recolhimento do entardecer, ou no silêncio da noite, suas vozes me falam, embalam, confortam; ressoam na minha solidão como vaga melodia. Ou, então, são sopros que passam, semelhantes a carícias, sábios conselhos ciciados, indicações preciosas sobre as imperfeições de meu caráter e os meios de remediá-las.

Então esqueço as misérias humanas para comprazer-me na esperança de tornar a ver um dia os meus amigos invisíveis, de reunir-me a eles na luz, se Deus me julgar digno disso, com todos aqueles que tenho amado e que, do seio dos espaços, me ajudam a percorrer a via terrestre.

Ascenda para todos vós, espíritos tutelares, entidades protetoras, meu pensamento agradecido, a melhor parte de mim mesmo, o tributo de minha admiração e de meu amor.

……………………………..

A alma vem de Deus e volve a Deus, percorrendo o ciclo imenso dos seus destinos; mas por mais baixo que tenha descido, cedo ou tarde, pela atração, sobe de novo para o Infinito. Que procura ela ali? o conhecimento cada vez mais perfeito do Universo, a assimilação cada vez mais completa de seus atributos – beleza, verdade, amor! E, ao mesmo tempo, uma libertação gradual das escravidões da matéria, uma colaboração crescente na obra de Deus.

Cada espírito tem, no espaço, sua vocação, e segue-a com facilidades desconhecidas na Terra; cada um encontra seu lugar nesse soberbo campo de ação, nesse vasto laboratório universal. Por toda parte, tanto na amplidão como nos mundos, objetos de estudo e de trabalho, meios de elevação, de participação na obra eterna, se oferecem à alma laboriosa.

Já não é o céu frio e vazio dos materialistas, nem mesmo o céu contemplativo e beato de certos crentes; é um Universo vivo, animado, luminoso, cheio de seres inteligentes em via constante de evolução. Quanto mais os seres espirituais se elevam tanto mais se acentua a sua tarefa, tanto mais aumentam de importância suas missões. Um dia, tomam lugar entre as almas mensageiras que vão levar aos confins do tempo e do espaço as forças e as vontades da Alma Infinita.

Para o espírito ínfimo, assim como para o mais eminente, não tem limites o domínio da vida. Qualquer que seja a altura a que tenhamos chegado há sempre um plano superior a alcançar, uma nova perfeição a realizar.

Para toda alma, mesmo a mais inferior, um futuro grandioso se prepara. Cada pensamento generoso que começa a despontar, cada efusão de amor, cada esforço que tende para uma vida melhor é como a vibração, o pressentimento, o apelo de um mundo mais elevado que a atrai e que, cedo ou tarde, a receberá. Todo ímpeto de entusiasmo, toda palavra de justiça, todo ato de abnegação repercute em progressão crescente na escala dos seus destinos.

À medida que ela se vai distanciando das esferas inferiores, onde reinam as influências pesadas, onde se agitam as vidas grosseiras, banais ou culpadas, as existências de lenta e penosa educação, a alma vai percebendo as altas manifestações da inteligência, da justiça, da bondade, e sua vida torna-se cada vez mais bela e divina. Os murmúrios confusos, os rumores discordes dos centros humanos pouco a pouco vão se enfraquecendo para ela até se extinguirem de todo; ao mesmo tempo começa a perceber os ecos harmoniosos das sociedades celestes. É o limiar das regiões felizes, onde reina uma eterna claridade, onde paira uma atmosfera de benevolência, serenidade e paz, onde todas as coisas saem frescas e puras das mãos de Deus.

A diferença profunda que existe entre a vida terrestre e a vida do espaço está no sentido de libertação, de alívio, de liberdade absoluta que desfrutam os espíritos bons e purificados.

Desde que se rompem os laços materiais, a alma pura desfere o vôo para as altas regiões. Lá vive uma vida livre, pacífica, intensa, ao pé da qual o passado terrestre lhe parece um sonho doloroso.

Na efusão das ternuras recíprocas, numa vida livre de males e necessidades físicas, a alma sente multiplicarem-se as suas faculdades, adquire uma penetração e uma extensão das quais os fenômenos de êxtase nos fazem entrever os velados esplendores.

A linguagem do mundo espiritual é a das imagens e dos símbolos, rápida como o pensamento; é por isso que os nossos guias invisíveis se servem, de preferência, de representações simbólicas para nos prevenir, no sonho, de um perigo ou de uma desgraça. O éter, fluido brando e luminoso, toma com extrema facilidade as formas que a vontade lhe imprime. Os espíritos comunicam-se entre si e compreendem-se por processos diante dos quais a arte oratória mais consumada, toda a magia da eloqüência humana, pareceria apenas um grosseiro balbuciar.

As inteligências elevadas percebem e realizam sem esforço as mais maravilhosas concepções da arte e do gênio. Mas essas concepções não podem ser transmitidas integralmente aos homens. Mesmo nas manifestações medianímicas mais perfeitas, o espírito superior tem de se submeter às leis físicas do nosso mundo e só vagos reflexos ou ecos enfraquecidos das esferas celestes, algumas notas perdidas da grande sinfonia eterna, é que ele pode fazer chegar até nós.

Tudo é graduado na vida espiritual. A cada grau de evolução do ser para a sabedoria, para a luz, para a santidade corresponde um estado mais perfeito de seus sentidos receptivos, de seus meios de percepção. O corpo fluídico, cada vez mais diáfano, mais transparente, deixa passagem livre às radiações da alma. Daí uma aptidão maior para apreciar, para compreender os esplendores infinitos; daí uma recordação mais extensa do passado, uma familiarização cada vez maior com os seres e as coisas dos planos superiores, até que a alma, em sua marcha progressiva, tenha atingido as máximas altitudes.

Chegado a essas alturas, o espírito tem vencido toda paixão, toda tendência para o mal, tem-se libertado para sempre do jugo material e da lei dos renascimentos - é a entrada definitiva nos reinos divinos, donde só voluntariamente descerá ao círculo das gerações para desempenhar missões sublimes.

Nessas eminências, a existência é uma festa perene da inteligência e do coração; é a comunhão íntima no amor com todos aqueles que nos foram caros e conosco percorreram o ciclo das transmigrações e das provas. Ajuntai a isso a visão constante da eterna beleza, uma profunda compreensão dos mistérios e das leis do Universo, e tereis uma fraca ideia das alegrias reservadas a todos aqueles que, por seus méritos e esforços, alcançaram os céus superiores.

Os desertos do espaço

45 - Inimaginável deserto, sem limites, se estende para lá da aglomeração de estrelas de que vimos de tratar, e a envolve.

A solidões sucedem solidões e incomensuráveis planícies do vácuo se distendem pela amplidão em fora. Os amontoados de matéria cósmica se encontram isolados no espaço como ilhas flutuantes de enormíssimo arquipélago. Se quisermos, de alguma forma, apreciar a distância enorme que separa o aglomerado de estrelas de que fazemos parte, dos outros aglomerados mais próximos, precisamos saber que essas ilhas estelares se encontram disseminadas e raras no vastíssimo oceano dos céus, e que a extensão que as separa, umas das outras, é incomparavelmente maior do que as que lhes medem as respectivas dimensões.

Ora, a nebulosa estelar mede, como já vimos, em números redondos, mil vezes a distância das estrelas mais aproximadas, tomada por unidade essa distância, isto é, alguns cem mil trilhões de léguas. A distância que existe entre elas, sendo muito mais vasta, não poderia ser expressa por números acessíveis à compreensão do nosso espírito. Só a imaginação, em suas concepções mais altas, é capaz de transpor tão prodigiosa imensidade, essas solidões mudas e baldas de toda aparência de vida, e de encarar, de certa maneira, a ideia dessa infinidade relativa.

46 - Todavia, o deserto celeste, que envolve o nosso Universo sideral, e que parece estender-se como sendo os afastados confins do nosso mundo astral, abrangem-no a visão e o poder infinito do Altíssimo que, além desses céus dos nossos céus, desenvolveu a trama da sua criação ilimitada.

47 - Além de tão vastas solidões, com efeito, rebrilham mundos em sua magnificência, tanto quanto nas regiões acessíveis às investigações humanas; para lá desses desertos, vagam, no éter límpido, esplêndidos oásis, que, sem cessar, renovam as cenas admiráveis da existência e da vida.

Sucedem-se lá os agregados longínquos de substância cósmica, que o profundo olhar do telescópio percebe através das regiões transparentes do nosso céu e a que dais o nome de nebulosas irresolúveis, as quais vos parecem ligeiras nuvens de poeira branca, perdidas num ponto desconhecido do espaço etéreo. Lá se revelam e desdobram novos mundos, cujas condições variadas e diversas das que são peculiares ao vosso globo lhes dão uma vida que as vossas concepções não podem imaginar, nem os vossos estudos comprovar. É lá que em toda a sua plenitude resplandece o poder criador. Àquele que vem das regiões que o vosso sistema ocupa, outras leis se deparam em ação e cujas forças regem as manifestações da vida. E os novos caminhos que se nos apresentam em tão singulares regiões abrem-nos surpreendentes perspectivas. 1

___________________

1 Dá-se, em Astronomia, o nome de nebulosas irresolúveis àquelas em cujo seio ainda se não puderam distinguir as estrelas que as compõem. Foram, a princípio, consideradas acervos de matéria cósmica em vias de condensação para formar mundos; hoje, porém, geralmente se entende que essa aparência é devida ao afastamento e que, com instrumentos bastante poderosos, todas seriam resolúveis.

Uma comparação familiar pode dar idéia, embora muito imperfeita, das nebulosas resolúveis: são os grupos de centelhas projetadas pelas bombas dos fogos de artifício, no momento de explodirem. Cada uma dessas centelhas figurará uma estrela e o conjunto delas a nebulosa, ou grupo de estrelas reunidas num ponto do espaço e submetidas a uma lei comum de atração e de movimento. Vistas de certa distância, mal se distinguem essas centelhas, tendo o grupo por elas formado a aparência de uma nuvenzinha de fumaça. Não seria exata essa comparação se se tratasse de massas de matéria cósmica condensada.

A nossa Via Láctea é uma dessas nebulosas. Conta perto de 30 milhões de estrelas ou sóis que ocupam nada menos de algumas centenas de trilhões de léguas de extensão e, entretanto, não é a maior. Suponhamos uma média de 20 planetas habitados circulando em torno de cada sol: teremos 600 milhões de mundos só para o nosso grupo.

Se nos pudéssemos transportar da nossa nebulosa para outra, aí estaríamos como em meio da nossa Via Láctea, porém com um céu estrelado de aspecto inteiramente diverso e este, mau grado às suas dimensões colossais, nos pareceria, de longe, um pequenino floco lenticular perdido no Infinito. Mas antes de atingirmos a nova nebulosa, seríamos qual viajante que deixa uma cidade e percorre vasto país inabitado, antes que chegue a outra cidade. Teríamos transposto incomensuráveis espaços desprovidos de estrelas e de mundos, o que Galileu denominou os desertos do espaço. À medida que avançássemos, veríamos a nossa nebulosa afastar-se atrás de nós, diminuindo de extensão às nossas vistas, ao mesmo tempo que, diante de nós, se apresentaria aquela para a qual nos dirigíssemos, cada vez mais distinta, semelhante à massa de centelhas de bomba de fogos de artifício. Transportando-nos pelo pensamento às regiões do espaço além do arquipélago da nossa nebulosa, veremos em torno de nós milhões de arquipélagos semelhantes e de formas diversas contendo cada um milhões de sóis e centenas de milhões de mundos habitados.

Tudo o que nos possa identificar com a imensidade da extensão e com a estrutura do Universo é de utilidade para a ampliação das idéias, tão restringidas pelas crenças vulgares. Deus avulta aos nossos olhos à medida que melhor compreendemos a grandeza de Suas obras e nossa infinidade. Estamos longe, como se vê, da crença que a Gênese moisaica implantou e que fez da nossa pequenina, imperceptível Terra, a criação principal de Deus e dos seus habitantes os únicos objetos da sua solicitude. Compreendemos a vaidade dos homens que crêem que tudo no Universo foi feito para eles e dos que ousam discutir a existência do Ente supremo.

Dentro de alguns séculos, causará espanto que uma religião feita para glorificar a Deus o tenha rebaixado a tão mesquinhas proporções e que haja repelido, como concepção do espírito do mal, as descobertas que somente vieram aumentar a nossa admiração pela sua onipotência, iniciando-nos nos grandiosos mistérios da Criação. Ainda maior será o espanto quando souberem que elas foram repelidas porque emancipariam o espírito dos homens e tirariam a preponderância dos que se diziam representantes de Deus na Terra.

Eterna sucessão dos mundos


48 - Vimos que uma única lei, primordial e geral, foi outorgada ao Universo para lhe assegurar eternamente a estabilidade e que essa lei geral nos é perceptível aos sentidos por muitas ações particulares que nomeamos forças diretrizes da Natureza. Vamos agora mostrar que a harmonia do mundo inteiro, considerada sob o duplo aspecto da eternidade e do espaço, é garantida por essa lei suprema.

49 - Com efeito, se remontarmos à origem primária das primitivas aglomerações da substância cósmica, notaremos que já então, sob o império dessa lei, a matéria sofre as transformações necessárias, que levam do gérmen ao fruto maduro, e que, sob a impulsão das diversas forças nascidas dessa lei, ela percorre a escala das revoluções periódicas. Primeiramente, centro fluídico dos movimentos; em seguida, gerador dos mundos; mais tarde, núcleo central e atrativo das esferas que lhe nasceram do seio.

Já sabemos que essas leis presidem à história do Cosmo; o que agora importa saber é que elas presidem igualmente à destruição dos astros, porquanto a morte não é apenas uma metamorfose do ser vivo, mas também uma transformação da matéria inanimada. Se é exato dizer-se, em sentido literal, que a vida só é acessível à foice da morte, não menos exato é dizer-se que para a substância é de toda necessidade sofrer as transformações inerentes à sua constituição.

50 - Temos aqui um mundo que, desde o primitivo berço, percorreu toda a extensão dos anos que a sua organização especial lhe permitia percorrer. Extinguiu-se-lhe o foco interior da existência, seus elementos perderam a virtude inicial; os fenômenos da Natureza, que reclamavam, para se produzirem, a presença e a ação das forças outorgadas a esse mundo, já não mais podem produzir-se, porque a alavanca da atividade delas já não dispõe do ponto de apoio que lhe era indispensável.

Ora, dar-se-á que essa terra extinta e sem vida vai continuar a gravitar nos espaços celestes, sem uma finalidade, e passar como cinza inútil pelo turbilhão dos céus? Dar-se-á permaneça inscrita no livro da vida universal, quando já se tornou letra morta e vazia de sentido? Não. As mesmas leis que a elevaram acima do caos tenebroso e que a galardoaram com os esplendores da vida, as mesmas forças que a governaram durante os séculos da sua adolescência, que lhe firmaram os primeiros passos na existência e que a conduziram à idade madura e à velhice, vão também presidir à desagregação de seus elementos constitutivos, a fim de os restituir ao laboratório onde a potência criadora haure incessantemente as condições da estabilidade geral. Esses elementos vão retornar à massa comum do éter para se assimilarem a outros corpos ou para regenerarem outros sóis. E a morte não será um acontecimento inútil, nem para a Terra que consideramos nem para suas irmãs. Noutras regiões, ela renovará outras criações de natureza diferente e, lá onde os sistemas de mundos se desvaneceram, em breve renascerá outro jardim de flores mais brilhantes e mais perfumadas.

51 - Desse modo, a eternidade real e efetiva do Universo se acha garantida pelas mesmas leis que dirigem as operações do tempo. Desse modo, mundos sucedem a mundos, sóis a sóis, sem que o imenso mecanismo dos vastos céus jamais seja atingido nas suas gigantescas molas. Onde os vossos olhos admiram esplêndidas estrelas na abóbada da noite, onde o vosso espírito contempla irradiações magníficas que resplandecem nos espaços distantes, de há muito o dedo da morte extinguiu esses esplendores, de há muito o vazio sucedeu a esses deslumbramentos e já recebem mesmo novas criações ainda desconhecidas.

A distância imensa a que se encontram esses astros, por efeito da qual a luz que nos enviam gasta milhares de anos a chegar até nós, faz com que somente hoje recebamos os raios que eles nos enviaram longo tempo antes da criação da Terra e com que ainda os admiremos durante milhares de anos após a sua desaparição real. 1

Que são os seis mil anos da humanidade histórica, diante dos períodos seculares? Segundos em vossos séculos. Que são as vossas observações astronômicas diante do estado absoluto do mundo? A sombra eclipsada pelo Sol.

_____________________

1 Há aqui um efeito do tempo que a luz gasta para atravessar o espaço. Sendo de 70.000 léguas por segundo a sua velocidade, ela nos chega do Sol em 8 minutos e 13 segundos. Daí resulta que se um fenômeno se passa na superfície do Sol, não o percebemos senão 8 minutos mais tarde e, pela mesma razão, ainda o veremos 8 minutos depois da sua cessação. Se, em virtude do seu afastamento, a luz de uma estrela consome mil anos para nos chegar, só mil anos depois da sua formação veremos essa estrela. (Veja-se, para explicação e descrição completa desse fenômeno, a Revue Spirite de março e maio de 1867, p. 93 e 151, resenha de Lumen, por C. Flammarion).

52 - Logo, reconheçamos, aqui como nos nossos outros estudos, que a Terra e o homem são nada em confronto com o que existe e que as mais colossais operações do nosso pensamento ainda se estendem apenas sobre um campo imperceptível, diante da imensidade e da eternidade de um Universo que nunca terá fim. E quando esses períodos da nossa imortalidade nos houverem passado sobre as cabeças, quando a história atual da Terra nos aparecer qual sombra vaporosa no fundo da nossa lembrança, quando, durante séculos incontáveis houvermos habitado esses diversos degraus da nossa hierarquia cosmologia, quando os mais longínquos domínios das idades futuras tiverem sido por nós perlustrados em inúmeras peregrinações, teremos diante de nós a sucessão ilimitada dos mundos e por perspectiva a eternidade imóvel.






Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Carlos Eduardo Cennerelli | Imagem in: http://estanteespirita.blogspot.com.br/
15/01/2015
 


Wan BrasilAC Portal
VINHA DE LUZ - SERVIÇO EDITORIAL LTDA.
Av. Álvares Cabral, 1777 - Sala 2006 - Santo Agostinho 30170-001 – Belo Horizonte – MG
Telefone: (31) 2531-3200 | 2531-3300 | 3517-1573 - CNPJ: 02.424.852/0001-31