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Notícia

Chico Xavier — Um homem exercendo o papel de anjo — Entrevista de Jhon Harley à Campina Espírita




Jhon Harley autografando o seu "O voo da garça", edição da Vinha de Luz Editora

Em entrevista concedida a esse site, o escritor de O Voo da Garça: Chico Xavier em Pedro Leopoldo (1910 -1959), Jhon Harley¹, durante o transcurso de sua passagem por Campina Grande para lançamento desse livro trouxe importantes informações acerca de Chico Xavier, bem como enfatizou a necessidade de enxergar esse médium em seu aspecto humano, como uma pessoa que tinha limitações, mas que soube vivenciar os ensinamentos do Cristo e ser um referencial de amor ao próximo e respeito às diferenças. Jhon conviveu com Chico por 21 anos, o que o tornou conhecedor de aspectos e características da vida desse grande divulgador da Doutrina Espírita. Nas palavras de Jhon, parafraseando outro escritor, “Chico não foi um anjo exercendo o papel de homem, mas foi um homem, no mundo e do mundo, exercendo o papel de anjo”. Confira!

Gostaríamos que você nos falasse sobre o processo de composição do livro O voo da Garça. Quanto tempo você levou para escrevê-lo?

Eu conheci Chico em 1981, posso dizer que, desde então, a ideia do livro deve ter nascido em meus pensamentos, mas, efetivamente, só começou a tomar forma a partir de 1995, quando a diretora de um jornal de circulação restrita na região de Pedro Leopoldo, “Oficina Humana”, me pediu que eu escrevesse um artigo sobre os 85 anos de Francisco Cândido Xavier. Intitulei o artigo “A Figura Humana de Chico Xavier” e enviei um exemplar para o Chico e, posteriormente, para minha surpresa, em uma correspondência, ele me disse que havia gostado muito do que eu tinha escrito e me pediu que enviasse mais exemplares. Entretanto, somente em 2008, no I Encontro Nacional dos Amigos de Chico Xavier e sua Obra, é que comecei um trabalho mais sistematizado.

E quais são os diferenciais dessa biografia que você escreveu que se soma às outras 180 biografias sobre Chico, publicadas pelo movimento espírita?

Procurei falar um pouco mais sobre o processo de humanização de Chico Xavier na cidade de Pedro Leopoldo. A vida desse homem é um exemplo de testemunhos para todos nós, espíritas, pois, sendo tão humano como nós, deu tanto sentido em sua vida. O Chico viveu tão intensamente a sua humanidade que nos dava a impressão de ser uma pessoa diferente, não humana. Como bom mineiro, ele adorava uma boa prosa, ficava profundamente constrangido com elogios, viveu da sua modesta aposentadoria, um ser humano normal, mas que exemplificando os ensinamentos de Jesus como ele exemplificou, se tornou uma referência não só para o nosso movimento, mas para os religiosos de uma maneira geral. Sua maior qualidade foi o respeito pelas diferenças, que é um grande ensinamento em tempos de tanta intransigência, principalmente para o nosso movimento espírita.

O que mais chamou a sua atuação na vida do médium mineiro?

A sua humanidade. Ele foi um dos poucos que seguiu a recomendação evangélica do “amai-vos uns aos outros como Jesus nos amou”. Certa vez, presenciei uma cena singular que se deu em uma reunião pública na cidade de Uberaba. Levantou-se uma mulher chorosa, dizendo que havia perdido a mãe, o marido e os filhos em um acidente automobilístico. Eu fiquei imaginando como seria possível consolar uma dor tão intensa. Eu imaginei que ele falaria sobre plano espiritual, fé, paciência... E sabem vocês o que ocorreu? O Chico se levanta, abraça aquela senhora e choram os dois publicamente. Isso ocorreu em meados dos anos 80 e eu me perguntei como é possível sensibilizar-se com a dor de uma pessoa que não se conhece? E a forma como ele acolheu essa pessoa? Se caridade material é dar o que se tem, caridade moral é dar o que se é! Foi o que o Chico demonstrou em seus 92 anos de idade e 75 anos de dedicação integral na mediunidade com Jesus.

Fale-nos sobre a saída de Chico de Pedro Leopoldo. Segundo o filme de Daniel Filho, isso teria se dado de forma intempestiva, após uma discussão familiar. Teria sido assim mesmo? Ou teria ocorrido uma saída processual? Como biógrafo, o que você tem a dizer sobre isso, já que o livro focaliza o período que culmina com essa mudança?

Eu diria que o diretor Daniel Filho usou uma licença poética, porque falar, em duas horas, sobre uma figura humana como Chico, é humanamente impossível! Mas o fato histórico não aconteceu daquela forma. Aquela “discussão” em família se deu em 1948 e como era natural ocorreu porque não era qualquer um que conseguiria viver ao lado do Chico, pois ele era intensamente solicitado. A casa, de fato, pertencia à família, mas a irmã estava casada e o marido, que era católico, não suportou o nível de procura por Chico à sua porta. Saindo dessa casa, ele foi para a casa de outra irmã, Maria Luiza Xavier, considerada praticamente a terceira mãe de Chico, com quem ele morou por, aproximadamente, dois anos; depois, nos últimos oitos anos, de 1950 a 1958, ele morou numa residência própria, que ficava nos fundos da casa dessa irmã. Então, a saída dele ocorreu dessa forma e não de modo intempestivo, como mostrado no filme.  Porém, várias razões concorreram para a sua saída, dentre elas o desejo de saída manifestado pelo próprio médium, como pude comprovar numa carta que ele escreveu a uma grande amiga da cidade de Matozinhos, D. Hermelita. Ele tinha o desejo de se mudar para Uberaba, sobretudo quando Waldo Vieira tivesse se formado em Medicina.  Eles já tinham se conhecido por volta de 1956 e mantiveram uma correspondência, psicografando obras em parceria, em cidades diferentes. Eu diria que o Chico teve que antecipar a saída, não por causa da irmã, mas sim pelas graves acusações de um dos seus sobrinhos – o Amaury - filho de outra irmã, mais velha, aquela que passou por problemas obsessivos e que, involuntariamente, o levou ao Espiritismo em 1927. Esse rapaz o acusou publicamente de mistificador.  O Chico não se defendeu, porque se ele se defendesse atacaria a própria família. Silenciou, mas aquilo o machucou demais. O discurso oficial, narrado pelo próprio Chico, dizia que ele teria saído de Pedro Leopoldo em razão do clima, que comprometia, ainda mais, a sua labirintite. Ele não mentiu, mas também não disse, digamos, toda a verdade.  Que clima era esse? Era o clima estabelecido pelo sobrinho.  Essa foi a grande razão da saída e, essa, sim, uma saída traumática; ele não desejava sair como saiu. Digo mais, como pedroleopoldense: acredito que ele precisava sair para ampliar suas atividades no campo doutrinário.

Você está ligado ao movimento "Os amigos de Chico Xavier". Quem pode ser realmente citado como amigo de Chico? Que amigos puderam ser guardados do “lado esquerdo do peito”? Os amigos históricos, anônimos (às vezes), mas presenças constantes na vida de Chico Xavier?

São vários amigos. Hoje ser amigo de Chico dá até status, mas ser amigo de Chico nos anos trinta era outra coisa... Primeiro eu destacaria a sua mãe, além de mãe, uma grande amiga, Maria de São João de Deus (seu nome correto), e a segunda mãe, como ele chamava, Cidália Xavier, sua “boadrasta”; além delas, o seu irmão José Cândido Xavier, cuja morte foi copiosamente chorada por Chico. Fora da família, a sua professora, Rosária Laranjeira, que gostaria de tê-lo adotado, queria levá-lo para Belo Horizonte para lhe dar uma educação esmerada, mas o pai não permitiu, e também porque isso não estava na programação espiritual; seu confessor Padre Sebastião Scarzello, não entendia muito bem o que se passava com Chico, mas acreditava nele, evitou que o Chico fosse internado num hospital psiquiátrico. No movimento espírita, Manoel Quintão, então diretor da Federação Espírita Brasileira, que juntamente com Ramiro Gama avalizou a entrada do Chico no movimento espírita brasileiro. O Ramiro era um estudioso de Augusto dos Anjos, que o reconheceu nas mensagens publicadas pelo médium mineiro. Dos amigos que eu pude observar na cidade Uberaba, eu destacaria Carlos Baccelli, que depois de Waldo Vieira (17 obras), é o médium que mais psicografou com Chico, foram 10 obras em parceria mediúnica. Eu diria também que Dinorá Fabiano foi uma grande amiga (a quarta mãe), desconhecida do nosso movimento espírita, mas essa mulher cuidou de Chico durante quase quarenta anos, principalmente nessa última fase da sua vida. O casal Galves, da cidade de São Paulo, também foram seus amigos. Em São Bernardo do Campo, a família de Caio Ramacciotti.  Em Belo Horizonte, não posso esquecer de D. Neném Aluotto, Martins Peralva e Geraldo Lemos Neto.  E muitos outros. Eu digo no livro que falar em Chico Xavier é falar em um amplo projeto coletivo, há amigos em Pedro Leopoldo, Uberaba, Belo Horizonte, São Paulo... Campina Grande etc. Em todos os lugares existem amigos de Chico, comprometidos com um projeto maior, que é o projeto do Cristo.

Qual a sua opinião sobre a polêmica questão: Chico é a reencarnação Kardec?

Eu não entrei nessa questão no livro, porque não era o foco e porque a mesma merece ainda amplas pesquisas, cujos instrumentos não estão à nossa disposição, creio, eu! Vou dar a minha opinião. Durante 21 de convivência, eu recebi 132 obras autografadas e que me foram enviadas pelo Chico via Correio. Em 1992, ele me mandou, sem que eu pedisse, a obra chamada Kardec Prossegue, escrita por Adelino Silveira – outro amigo do Chico. Como fiz com todas as obras, eu li cuidadosamente. A tese central da obra afirmava que Chico foi Kardec! Um dia, na cidade de Uberaba, tive a coragem de perguntar: Chico você é Kardec? Ele não me disse que sim nem que não. Mas me questionei: por que ele mandou essa obra autografada para tantos amigos? Ele sempre foi muito cuidadoso com os livros... Seja para prefaciar ou para enviar uma obra para alguém. Sinceramente, creio que ele quis nos dar um recado. Defendo a tese de que Chico é a reencarnação de Kardec, em razão desse e de outros fatos! Respeito a opinião de quem pensa diferente, mas também posso afirmar que Adelino não publicaria esse livro sem o consentimento de Chico Xavier. Eu perguntei a Nena Galves se Chico havia dito para ela alguma coisa e ela me disse que ele não havia comentado nada, mas ela disse que se Kardec estivesse reencarnado, como estava previsto em Obras Póstumas, ele seria o Chico. Não há outro que pudesse ocupar essa função. Mas isso não é o mais importante, eu acho que o maior reconhecimento que poderíamos prestar a Chico Xavier é considerar suas obras psicografadas não mais como obras subsidiárias da Codificação, mas como obras básicas, porque elas representam o seu prolongamento natural, sem com isso desconsiderar a progressividade da nossa Doutrina nem a contribuição de vários outros espiritistas, como Zilda Gama, Bezerra de Menezes, Divaldo Franco, Yvonne Pereira, Eurípedes Barsanulfo, dentre outros.

E o polêmico filho adotivo de Chico – Eurípedes Higino – qual o papel dele na vida do médium?

Nas histórias quase sempre há o papel do herói e do vilão. Nesta história Eurípedes exerceu um difícil e delicado papel, pois coube a ele, em um determinado momento, resguardar o Chico de tantos pedidos e solicitações. Eu vi o Chico algumas vezes, não desejando receber determinadas pessoas, pedir ao Eurípedes para dizer que ele não estava ou que não poderia atender naquele momento. Mas é o mesmo caso que disse anteriormente: conviver com Chico, quem suportaria acompanhar tal nível de exigência e exposição pública?! Eu não suportaria! Porque era muita renúncia num ritmo de atividades impressionantes! Creio que Eurípedes exerceu um papel importante e é verdade que o Chico gostava muito dele. Todas as vezes que ia a Uberaba, ele sempre me perguntava se eu havia cumprimentado e despedido do Eurípedes. E no final da vida, os papeis haviam se invertido: Chico havia virado filho e Eurípedes, o pai. E isso com consentimento do próprio Chico, por mais estranho que isso possa parecer! Posso também afirmar que o desencarne do Chico mexeu muito com o Eurípedes. Hoje, observo que ele está muito mais sensibilizado.

E Emmanuel – mentor espiritual de Chico - está reencarnado ou não?

Em julho deste ano, na cidade de Uberaba, no III Encontro Nacional dos Amigos de Chico Xavier e Sua Obra, a companheira Nena Galves apresentou um vídeo onde o Chico falou claramente que Emmanuel estaria aguardando o seu retorno para a pátria espiritual para que ele pudesse reencarnar.  Ele deveria reencarnar quando o Chico voltasse, mas o médium recebeu muitas moratórias, a última foi de um ano, documentada inclusive pela televisão, quando uma luz misteriosa entrou pela janela do hospital, então, Emmanuel, voltou antes que o retorno do médium acontecesse. Afirma isso também outros amigos, entre elas Suzana Mousinho e Dr. Elias Barbosa, que Emmanuel viria como professor e que trabalharia na mediunidade.  Os dois brincavam: Chico dizia para Emmanuel que veria como é difícil ser médium na Terra, ao que o mentor respondia que ele iria ver como era difícil ser mentor de médium no mundo. Sinceramente, creio que Emmanuel se encontra encarnado para dar continuidade à sua tarefa doutrinária.


1 Jhon Harley Madureira Marques – mineiro, 48 anos.
  • Professor de educação física
  • Psicólogo
  • Presidente da Aliança municipal Espírita e da Fundação Cultural Chico Xavier, ambos em Pedro Leopoldo (MG)
  • Militante do movimento espírita desde 1980
  • Conheceu Chico Xavier em 1981, na cidade de Pedro Leopoldo, e mantiveram uma longa e sólida amizade, acompanhando o médium até o momento de seu desencarne em 2002.
  • É o autor do livro “O voo da Garça: Chico Xavier em Pedro Leopoldo (1919 – 1959)”. Obra que versa sobre o aspecto humanitário do Chico, recuperando, inclusive, informações históricas importantes, quando ele ainda se encontrava em sua terra natal. Para Harley, "Chico não foi um anjo exercendo o papel de um homem, mas um homem, do mundo e no mundo, exercendo papel de anjo".


Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Denise Lino | In: http://www.campinaespirita.net/
06/06/2011
 


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