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Notícia

A Epístola Lentuli - Parte 1 — Artigo de Pedro de Campos publicado na revista Espiritismo & Ciência de junho de 2011 pode ser lido aqui




A EPÍSTOLA LENTULI – PARTE 1

PEDRO DE CAMPOS

Dentre os chamados documentos apócrifos do Novo Testamento (NT), em particular os que compõem o chamado Ciclo de Pilatus, escrituras oficiais do processo condenatório de Jesus, temos a Carta de Públio Lentulus ao Imperador Tibério César, conhecida em latim como Epistolae Lentulii. Nesse documento, o autor da carta descreve ao imperador de Roma a physiognomia Christi e alguns dos atos messiânicos de Jesus. A carta se tornou famosa por descrever o Cristo assim como nós o conhecemos hoje, nas obras de arte. E, também, por retroceder o retrato falado à Idade Antiga, dando legitimidade à figura do Cristo.

Por certo, não poderíamos exigir o testemunho da physiognomia Christi de três autores do NT (Marcos, Lucas e Paulo), responsáveis por 17 livros, pois não conheceram Jesus. Mas o mesmo não se poderia dizer dos cinco autores restantes (Tiago, Judas, Pedro, Mateus e João), responsáveis por 10 livros componentes do NT; estes, estranhamente, tendo convivido com o Cristo, não o descreveram, fazendo-nos pensar sobre os motivos de tal omissão. Sem dúvida, o testemunho do senador Públio Lentulus legitima e agrega valor ao conhecimento.

É preciso destacar que o Ciclo de Pilatus é um conjunto de escrituras não pertencentes ao cânone bíblico, mas consideradas por muitos como de autores contemporâneos de Jesus, nas quais são relatados os últimos momentos do Cristo em seu martírio nas mãos do procurador da Judeia. Dentre essas, está o retrato falado de Jesus, feito pelo senador Públio Lentulus.

Muitos acreditam que os apócrifos pertencentes ao Ciclo sejam do início da Era Cristã. E que, ao longo dos séculos, por falta de uma versão oficial (pois a característica do apócrifo é não ter feito parte do cânone da Igreja), as diversas traduções podem ter mexido nos dizeres originais. Hoje, o interesse está em encontrar o texto mais antigo, capaz de legitimar uma das versões. Não se descarta a hipótese de encontrá-lo na Itália, no Vaticano, na Igreja Ortodoxa Grega, na Turquia ou em outra importante biblioteca.

Conforme pesquisamos, informações valiosas sobre a Epístola Lentuli foram dadas no século XIX, por Edward Robinson, que coordenou a obra The biblical repository. Nessa publicação, o autor trouxe um artigo intitulado On the letter attributed to Publius Lentulus, respecting the personal appearance of Christ [Sobre a carta atribuída a Públio Lentulus, a respeito da aparência pessoal de Cristo], texto comentado de uma antiga publicação em latim.

Esse texto já tinha sido publicado antes, no Calmet’s dictionary, num artigo intitulado Lentulus. Nele, Robinson informa que a versão mais antiga da qual tivera conhecimento fora publicada por Anselmo, arcebispo de Canterbury, morto no ano de 1109. O autor explica que essa mesma carta seria publicada séculos depois, em Paris, no final do século XV (ou início do XVI), em primeira versão francesa. Sabe-se, também, que essa Epístola fora republicada várias vezes, em muitos países, e vertida para vários idiomas, até o editor Anthony Maas, em 1910, resolver publicá-la em Nova York, em língua inglesa, no volume 9 do The catholic encyclopedia, sob o título The letter of Lentulus.

A carta que apresentamos é uma reimpressão do Monumenta S. Pattrum orthodoxographa, editado na Basileia, 1569, em latim, sob a coordenação de Erhard Cell e Johann Jakob Grynaeus; também a damos aqui em português, sem os rigores de uma tradução Ipsis litteris que deixaria a carta fora do uso corrente da língua.



REGISTROS DE EMMANUEL

A obra Há 2000 anos..., psicografada por Francisco Cândido Xavier, sob a influência de Emmanuel, espírito que na Roma Antiga encarnara a personalidade do senador Públio Lentulus, – não traz a Epístola Lentuli, mas, de modo intrigante, fala sobre a fisionomia do Cristo e faz menção expressa à carta, declarando, o espírito, tê-la escrito naquela encarnação.

No capítulo III, Em casa de Pilatos, o autor faz uma breve descrição da physiognomia Christi, conforme havia escutado do lictor Sulpício Tarquinius, homem de confiança de Pilatos. Nela, o autor se mostra em sintonia com a Epístola Lentuli, a qual haveria de redigir pouco depois de seu encontro com Jesus.

No capítulo VII, em As pregações de Tiberíades, Lívia, esposa de Lentulus, querendo manisfestar seu reconhecimento a Jesus pela cura da filha, foi assistir a um sermão. Ao vê-lo chegar na barca de Simão Pedro, descreve-o: “Sua fisionomia parecia transfigurada em resplendente beleza; os cabelos, como de costume, caíam-lhe aos ombros, à moda dos nazarenos”.

No final do capítulo V, intitulado O Messias de Nazaré, Emmanuel registra que após Lentulus receber de Roma um liberto da parte do senador Flamínio Severus, ainda envolto na felicidade de ter a filha curada após seu encontro com Jesus, escreve ao amigo “uma longa carta, em suplemento, com vistas ao Senado Romano, sobre a personalidade de Jesus Cristo, encarando-a serenamente, sob o estrito ponto de vista humano, sem nenhum arrebatamento sentimental”, segundo suas próprias palavras.

Tanto a descrição de Sulpício quanto a de Lívia, relatadas por Emmanuel, assim como sua carta endereçada a Flamínio, todas da psicografia Xavier, estão em perfeita sintonia com a Epístola Lentuli.

Esse apócrifo, conhecido hoje mundialmente, veio à luz pela via histórica tradicional, não foi dado pelos espíritas. A carta, além de nos dar conhecimeno da physiognomia Christi, patenteou também a existência do senador Públio Lentulus, encarnação do espírito Emmanuel. Chico Xavier, por sua vez, medianeiro do livro Há 2000 anos..., no qual o espírito autor informa ter escrito a carta, nada conhecia da Epístola Lentuli quando psicografara a obra.

Cabe ressaltar que os livros de Emmanuel, falando da Roma Antiga, não são dados por ele como romance; ou seja, como literatura em que as coisas “possíveis” se tornam “verdadeiras”, mas como casos realmente vividos. Embora o espírito se utilize de técnica romanceada, as passagens são autobiográficas, dadas como verídicas. Em termos históricos, o ponto culminante, em Há 2000 anos..., é seu encontro com Jesus e sua revelação de ter sido o autor da famosa carta.

Quanto ao livro Lentulus – Encarnações de Emmanuel, lançado por nós, tem o propósito de mostrar quem foi o espírito mentor de Chico Xavier em duas de suas encarnações na Roma Antiga. O nosso compromisso é com a verdade histórica. A obra traz o que há de mais atual sobre a Epístola Lentuli, sobre a vida do senador Públio Lentulus e a de seu bisavô, o cônsul romano Lentulus Sura, político que vivera na época da República de Cícero. Dá aos espiritistas, em geral, e aos formadores de opinião, em particular, a chance de conhecer, com a força viva da história, a vida desses homens ilustres do passado.


PAULO REPROVA OS CABELOS LONGOS

Não nos propomos neste artigo dissecar o Ciclo de Pilatus e outras escrituras dadas como apócrifas pela Igreja, nem tampouco os livros dos pais da Igreja, teólogos de expressão como Justino de Roma, Tertuliano, Irineu de Lyon, Eusébio de Cesareia, Giovanni Damasceno, Gerônimo Xavier e ainda outros historiadores que arrolamos no livro Lentulus. Quem tiver interesse encontrará isso no livro.

Na obra Lentulus, o resultado dessas investigações foi resumido em alguns pontos capitais, cinco contra à autenticidade da Epístola e outros cinco favoráveis a ela. Aqui vamos aprofundar apenas um deles: um versículo de Paulo contrário à carta. Nele, o apóstolo reprova o uso de cabelo comprido para os cristãos, contrariando o costume de Jesus. Cabe-nos tentar entender os motivos dessa sua postura.

Paulo instrui os coríntios, dizendo: “A natureza mesma não vos ensina que é desonroso para o homem usar cabelos compridos [na sociedade romana, em parte da Grécia e na Ásia Menor], ao passo que, para a mulher, é glorioso ter longa cabeleira, porque os cabelos lhe foram dados como véu [as judias casadas cobriam a cabeça com Kissuí, enquanto as solteiras não]. Se, no entanto, alguém quiser contestar [e haveria de contestá-lo em razão dos cabelos longos de Jesus], não temos este costume [Paulo vivia em sociedade culta e usava cabelos curtos], nem tampouco as igrejas de Deus [as primeiras igrejas cristãs do mundo antigo]” I Cor 11:14-16.

Paulo não conheceu Jesus, senão na estrada de Damasco, numa viagem (At 9). Quem conta esse episódio é seu companheiro Lucas, que também não conheceu o Cristo. Paulo não era tido como apóstolo pelos demais, mas por seus seguidores (1 Cor 9:2). Contudo, é pouco provável que não soubesse do costume de Jesus. Emmanuel, em Paulo e Estêvão (PP cap.10), corrobora dizendo que no “caminho de Damasco”, Paulo vira que “os cabelos [de Jesus] tocavam nos ombros, à nazarena”. Por certo, seus motivos para reprovar o cabelo comprido seriam sociais.

As instruções de Paulo, em I Coríntios, seriam para dar postura moral e prevenir ocorrências futuras, pois o uso de cabelo comprido daria aos cristãos e aos padres uma aparência feminina, indecorosa aos homens conforme os costumes vigentes na época, em cidades cultas e prósperas do Império Romano.

Mas, nos dizeres de Paulo, havia um senão: “Se, no entanto, alguém quiser contestar...”. Nisso deixa claro que suas instruções poderiam ser rejeitadas. Porque Jesus, conforme sabemos da Epístola Lentuli, usava cabelos compridos, como os demais nazarenos. Se alguém quisesse imitá-lo (e Paulo sabia que muitos poderiam fazê-lo), a má fama do cabelo comprido nas cidades cultas colocaria em jogo a propagação do Cristianismo nascente.

A TRADIÇÃO DOS NAZARENOS

Revendo um pouco a História Antiga, nos tempos de Moisés os hebreus usavam cabelos longos, ao natural, assim como cresciam. Foram proibidos de cortá-los de forma redonda, como os árabes, os amonitas, os moabitas e outros povos vizinhos, que assim os usavam para imitar o deus Baco, do qual eram devotos. Os hebreus também não podiam cortar os cabelos para imitar os mortos nem os antepassados ilustres como Adão, tido por eles como de cabelos curtos, diferentes dos de Eva, que seriam longos.

Mas o avanço das civilizações fez o povo mais culto de Israel usar cabelos curtos. Os judeus que se ocupavam do serviço no templo, revesando-se ali a cada 15 dias, eram exigidos pelos sacerdotes a cortar os cabelos curtos, mas usando a tesoura, não a navalha.

Para cumprir o sexto capítulo de Números, os nazireus (de nazir), religiosos consagrados ao sacerdócio e não pertencentes à tribo de Levi (responsável pelo sacerdócio mosaico), usavam os cabelos como cresciam, sem cortá-los até o término do nazireado.

Esse sacerdócio poderia durar meses, anos ou até mesmo a vida inteira. E a cabeleira crescia sem cessar, dando ao homem uma aparência de “profeta”, como se diria hoje. Terminada a missão, em cerimônia religiosa, sempre acompanhada de sacrifício, raspavam a cabeça e queimavam os cabelos, segundo antigo costume.

Jesus não era da tribo de Levi, mas da de Judá, como mostram as genealogias de Mateus 1:2 e Lucas 3:33, ainda reiterada em Hebreus 7,14: “É bem conhecido, de fato, que nosso Senhor surgiu de Judá, tribo a respeito da qual Moisés nada falou sobre o sacerdócio”.

Ocorre que a primeira aliança feita por Deus, para exercício do sacerdócio com a linhagem dos levitas, seria substituída depois por uma segunda, desta vez com a tribo de Judá. “Dias virão, diz o Senhor, nos quais concluirei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma nova aliança” Hebreus 8:7-8. Assim, no tempo certo, o Cristo, oriundo da “casa de Judá”, entrou no santuário de Israel para exercer o seu ministério.

Jesus, não sendo levita, conforme a Lei estalelece, devia cumprir o capítulo seis de Números, como o fizera João Batista, seu primo de segundo grau. Teria de fazer o voto especial de nazir, o “consagrado” a Deus, comprometendo-se a não cortar a cabeleira, a não beber vinho, a não se aproximar de cadáver e de coisa impura durante o seu ministério.

Tudo indica que, dessas exigências, Jesus preferiu ficar com a tradição dos nazarenos e não cortar os cabelos, tendo vivenciado plenamente a profecia do Salmo de Davi: “Mais que os cabelos da minha cabeça são os que me odeiam sem motivo” Sl (69)68:5(4). De fato, quando Jesus Nazareno iniciou a sua missão, dizendo-se o Messias, foi odiado por muitos, em número maior que o de seus cabelos.

Como habitante de Nazaré (Mt 2:23), pequena aldeia agrícola nas terras do sul da Galileia, com menos de trinta famílias, situada no caminho das caravanas que seguiam ao mar da Galileia, à Samaria e à Síria, Jesus vivia em meio aos simples – não era respeitado até então. Os nazarenos sempre foram rejeitados pelos judeus das grandes cidades, possuidores de bens e de maior cultura. Assim como os nazarenos, Jesus fora desprezado, tendo passado a vida no anonimato.

Conforme as profecias: “Desde criança crescera diante dele mesmo, como um renovo, como raiz que brota de uma terra seca; não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o olhar de outros, nem formosura capaz de deleitá-los. Era desprezado e abandonado pelos homens; estava sujeito à dor, familiarizado com a enfermidade, vivia como pessoa de quem todos escondem o rosto; desprezado, ninguém fazia caso nenhum dele. E, no entanto, eram as enfermidades do homem que ele levava sobre si, carregando as dores do mundo” Is 53:2,3. Quando Jesus iniciou o seu ministério, as multidões ficaram pasmadas: “Tão desfigurado estava o seu aspecto, e a sua forma não parecia a de um homem” Is 52:14. Mas Jesus prosperou, elevou-se, foi exaltado e posto nas alturas. Ao findar o seu ministério, silenciou os reis.

A QUESTÃO DOS CABELOS NA ANTIGUIDADE

O costume dos nazarenos e outros povos no uso de cabelos compridos continuou após anos da desencarnação de Jesus, não se alterando. Os asiáticos, os africanos e os povos bárbaros continuaram a ter cabelos compridos. Diferentes desses, os gregos, menos os lacedemônios (espartanos), assim como os romanos, usavam cabelos curtos. Em tempos de luto, era permitido aos romanos deixar barba e cabelo, como o fizeram Otávio Augusto e Marco Antônio após a morte de Júlio César.

Conforme registra Suetônio, em Vida de Caio Calígula, os reis bárbaros, ao contrário dos romanos, usavam barba e cabelos compridos. Mas em sinal de luto raspavam a barba, e de suas esposas cortavam os cabelos. Suetônio diz que quando Calígula, ao completar 21 anos, recebeu de Tibério a toga cândida, ele raspou completamente a barba, dignando-se a assumir funções importantes no Império; em seguida, no ano de 38, após a morte de Drusila, sentindo-se incapaz de resistir a tanta dor, deixou novamente crescer a barba e os cabelos, em sinal de luto. Dentre as suas perversidades, quando nas ruas de Roma encontrava jovens bem penteados, Calígula mandava desfigurá-los, raspando-lhes a cabeça; Suetônio informa que após a vitória sobre os germanos e gauleses Calígula escolheu os prisioneiros mais fortes e fê-los entrar em Roma de cabelos compridos, tingidos de vermelho, para tornar maior o seu triunfo, pois os ruivos de cabelos longos eram os bárbaros mais difíceis de vencer. Os cabelos compridos eram sinal de ignorância para os povos de cidades cultas e prósperas.

No século IX, segundo São Cirilo, religioso responsável pela expansão do Cristianismo ortodoxo no leste europeu, a interpretação do capítulo seis de Números, referente aos nazireus, estendia-se também aos nazarenos, chamados então de “nazareus” (moradores de Nazaré, como Jesus). Os cabelos compridos eram usados por ambos. Dentre os nazarenos, usar cabelos compridos e cortá-los após o sacerdócio, ofertando-os a Deus, era um costume que vinha desde as raízes hebraicas no Egito.

Na Grécia, Plutarco afirma que Teseu, quando saiu da infância, consagrou a Apolo os seus primeiros cabelos. Em Roma, não há dúvida de que tal prática era um ritual gentílico, dedicado aos deuses romanos. Em Vida de Nero, Suetônio narra que quando esse imperador fez pela primeira vez a barba, fechou-a num estojo ornado de pérolas preciosas e em meio aos aprestos para sacrifício ofertou-a a Júpiter Capitolino.

Valério Marcial, por sua vez, fala que, após a morte de Nero, quando o imperador Vespasiano ofertou aos deuses os cabelos de seu filho Domiciano, Umberto colocou-os num vaso de ouro, expressando-se num dístico: Accipe laudatos juvenis Pliaebeie crines / Quos Ubi Caesarius donat habere puer. [Aceite estes jovens cabelos plebeus / aqueles a quem César oferta para manter o filho].

Em suma, nos primeiros anos do Cristianismo, seja em Roma ou na Grécia, cidades mais prósperas e cultas do mundo antigo, era indecoroso ao homem usar barba ou cabelos compridos: a barba era raspada a navalha, deixando a face limpa; os cabelos, cortados a tesoura, curtos e raros, deixando a testa alta e a cabeça desguarnecida.

No início do Cristianismo, não querendo correr o risco de uma reprovação social por algo que considerava dispensável, e para manter a ordem nas primeiras assembleias cristãs, Paulo sugeriu às igrejas o uso de cabelos curtos, tanto aos padres quanto aos homens cristãos. E registrou isso em Éfeso, em sua Primeira Carta aos Coríntios, por volta do ano 59 da Era Cristã, quase no fim de sua missão. A cidade de Corinto ficava no sul da Grécia, era culta, populosa e muito imoral. Paulo sabia que seria contestado, quando registrou: “Se, no entanto, alguém quiser contestar”, pois Jesus usava cabelos compridos, conforme mostra a Epístola Lentuli; e de fato o foi.

Cerca de meio século depois, não eram poucos os padres que ainda usavam cabelos compridos, tomando Cristo como espelho. Então o Papa Anacleto (100 a 112), não obstante a obscuridade de sua história sabe-se que ordenou 25 sacerdotes, mas impondo a eles o uso de cabelos curtos. E meio século depois de Anacleto o Papa Aniceto (155 a 166) expediu um decreto oficial proibindo aos padres o uso de cabelos compridos, dando como fundamento I Coríntios 11,14-16.

O costume de Jesus e a Epístola Lentuli nada tinham com esses interesses da Igreja iniciante, a qual precisava dar aos padres uma feição máscula, culta e respeitável nas cidades prósperas do Império Romano, para o Cristianismo nascente se fazer respeitado, digno de crédito e tornar-se religião lícita, contemplado, assim, pelas leis romanas.

AS ESCRITURAS CANÔNICAS

Sabe-se que a literatura acerca dos primeiros cristãos iniciou-se com os registros de Pilatos, quanto este informou Roma sobre Jesus, dando conta das novidades ocorridas na Palestina, conforme registra Eusébio de Cesareia, História eclesiástica L 2,2; L 9,5.

Essa literatura inicial avançou com outros escritos, numa quantidade enorme de livros. Em meio a tantos, por certo não teria sido fácil aos teólogos evangelistas harmonizar os quatro Evangelhos, dando a cada um deles texto específico e falando tudo sobre Jesus, bem como harmonizar os quatro entre si.

Como autores do NT, primeiro vieram os apóstolos e seus seguidores da hora inicial, cujos textos seriam consolidados depois, pelos evangelistas anônimos da Igreja. A instituição Igreja, quando já formada, preocupou-se em alijar das Escrituras os textos de autores gnósticos. Afastou também os autores que não estavam ligados ao Cristianismo desde o início. Uma condição importante era o texto ter sido usado e aceito nas primeiras comunidades cristãs. Com tais critérios, textos como a Epístola Lentuli, produzida por um senador romano a serviço de Tibério, e vários outros com caracteres que não passaram pelo crivo da Igreja, ficaram fora do cânone.

Dos 27 livros do Novo Testamento, tidos como inspirados e perfeitos pela Igreja, temos os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), os Atos dos Apóstolos (Lucas), as 13 Epístolas de Paulo, a Epístola aos Hebreus (de autor incerto, escrita depois de Paulo e atribuída a ele), a Epístola de Tiago (bispo de Jerusalém e irmão de Jesus – Mc 6:3; Gl 1:19; Mt 13:55), as duas Epístolas de Pedro, as três Epístolas de João e a única Epístola de Judas (possível irmão de Jesus – Mc 6:3; Mt 13:55), terminando no Apocalipse de João (o livro de maior gnose de toda a literatura religiosa em todos os tempos).

É preciso notar que a autoria dos livros do NT acabou ficando para os apóstolos e para alguns de seus companheiros iniciais, nada fora deles. A inspiração concentrou-se nos cristãos de primeira hora; depois, coube aos evangelistas anônimos da Igreja o trabalho de censura, harmonia e redação esmerada.

Se, em seu tempo, o senador Públio Lentulus tivesse ouvido as palavras do Cristo, as que ele registrou em Há 2000 anos...: “Encontrarás hoje um ponto de referência para regeneração de toda a tua vida. Porém, está no teu querer o aproveitá-lo agora ou daqui alguns milênios...”; talvez, naquela hora, ele fosse escolhido para tarefas especiais. Então, a Epístola Lentuli e talvez outros escritos de sua lavra evangélica pudessem fazer parte daqueles que seriam apreciados pela futura Igreja, com vistas à formação do cânone oficial.

A indicação mais sugestiva é de que o apócrifo, Epístola Lentuli, a exemplo das primeiras Escrituras canônicas, fora escrito na Antiguidade, nos tempos de Jesus. O senador Públio Lentulus, quando de sua estada na Palestina, conforme nos mostra a psicografia Xavier e corrobora o apócrifo, foi o seu autor. Temos a Epístola Lentuli como legítimo documento da época, não incluído no cânone bíblico como tantos outros; e, como estes, recebera da Igreja a classificação de “apócrifo”. A carta atesta alguns aspectos da personalidade e da fisionomia do Cristo, além de dar substância à existência do senador Públio Lentulus nos tempos de Jesus.



Pedro de Campos é administrador, ufólogo, espírita pesquisador e autor de "Lentulus – Encarnações de Emmanuel"
[Lúmen Editorial, 2010], livro que fundamenta este texto.




ORIGINAIS DA EPÍSTOLA LENTULI
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EM LATIM – Lentulus Hierosolymitanorum Praeses S. P. Q. Romano: Adparuit nostris temporibus et adhuc est homo magnae virtutis nominatus Christus Iesus, qui dicitur a gentibus propheta veritatis, quem eius discipuli vocant filium dei, suscitans mortuos et sanans languores. Homo quidem staturae procerae, spectabilis, vultum habens venerabilem, quem intuentes possunt et diligere et formidare; capillos vero circinos et crispos aliquantum coeruliores et fulgentiores ab humeris volitantes; discrimen habens in medio capitis iuxta morem Nazarenorum; frontem planam et serenissimam, cum facie sine ruga ac macula aliqua, quam rubor moderatus venustat; nasi et oris nulla prorsus est reprehensio; barbam habens copiosam et rubram, capillorum colore, non longam sed bifurcatam; oculis variis et claris exsistentibus. in increpatione terribilis, in admonitione placidus ac amabilis, hilaris, servata gravitate, qui nunquam visus est ridere, flere autem saepe. Sic in statura corporis propagatus, manus habens et membra visu delectabilia; in eloquio gravis, rarus et modestus, speciosus inter filios hominum. Valete.
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EM PORTUGUÊS – Lentulus, legado em Jerusalém, ao Senado e ao povo romano: Nestes tempos apareceu e ainda se encontra entre nós um homem de grande virtude, que se chama Jesus Cristo, o qual é tido pelo povo como profeta da verdade; seus discípulos o chamam de filho de Deus, pois ele ressuscita os mortos e cura os doentes. É um homem notável, de alta estatura e aspecto venerando, que pode inspirar a quem o olha tanto o amor como a temeridade. Seus cabelos são de um tom cobre-acastanhado, levemente ondulados até à altura das orelhas, sendo, a partir daí, mais escuros, encrespados e brilhantes até à altura dos ombros; usa-os repartidos ao meio, ao estilo dos nazarenos. Seu rosto é bem conformado e de aspecto sereno, não tem rugas nem cicatrizes na face, a qual um rubor moderado torna ainda mais bela, sem nenhuma imperfeição no nariz nem na boca. Tem a barba abundante e avermelhada, quase da cor dos cabelos, não longa, mas bifurcada na altura do queixo. Sua expressão é simples e natural, e seus olhos são azulados e brilhantes. Sua expressão, quando reprova, é severa; quando aconselha, se faz serena e amável, até mesmo quase alegre, mas sem perder a sua dignidade, já que ninguém jamais o viu rir, embora já o tenham visto chorar por vezes. Seu talhe corporal é esbelto, bonito de ver, com mãos e braços proporcionais; fala de modo grave e eloquente, mas é reservado e modesto; seu modo simples de ser pode ser comparado ao dos demais homens. Passai bem.

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EPÍSTOLA LENTULI EM LATIM:  http://www.textexcavation.com/jesus.html" http://www.textexcavation.com/jesus.html  maio/2011.

EPÍSTOLA LENTULI ILUSTRADA: Manuscrito em latim com retrato falado de Cristo. Lyons, Mathias Huss, 1499. Hospedagem virtual em Universitätsbibliografie der Katholischen Universität Eichstätt-Ingolstad, Baviera, Alemanha em maio/2011: http://bvbm1.bib-bvb.de/webclient/DeliveryManager?pid=1428873&custom_att_2=simple_viewer" o "blocked::http://bvbm1.bib-bvb.de/webclient/DeliveryManager?pid=1428873&custom_att_2=simple_viewer" http://bvbm1.bib-bvb.de/webclient/DeliveryManager?pid=1428873&custom_att_2=simple_viewer .




Enviado por Geraldo Lemos Neto | Vinha de Luz Editora | Pedro de Campos | Espiritismo & Ciência | # 87 | Junho, 2011 | Ilustração in: http://bvbm1.bib-bvb.de/webclient/DeliveryManager?pid=1428873&custom_att_2=simple_viewer
12/08/2011
 


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